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O maior memorial do mundo para lembrar vítimas do nazismo
O maior memorial do mundo para lembrar vítimas do nazismo

O maior memorial do mundo para lembrar vítimas do nazismo

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Você já ouviu falar no maior memorial não centralizado do mundo? É uma homenagem às vítimas da perseguição nazista que está espalhado daqui da Alemanha, passando pela Europa toda e chegando até a Argentina.

Sempre dizem que “a riqueza está nos detalhes” e, passeando por Berlim, é natural se encantar com as grandes construções e monumentos, mas hoje vamos olhar com atenção para algo que você talvez simplesmente passe por cima, ou até tropece na sua passagem pela cidade.

Estamos falando das Stolpersteine, as chamadas “Pedras do Tropeço” que formam o maior monumento descentralizado do mundo, lembrando das vítimas da perseguição Nazista. 

Saiba mais no nosso vídeo completo sobre o assunto

O dia 27 de Janeiro marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, data escolhida pois é o dia que Auschwitz-Birkenau, o maior campo nazista de concentração e morte, foi liberado pelo exército vermelho.

A maioria das Pedras do Tropeço homenageia Judeus vítimas do Holocausto, com muitas outras lembrando de vítimas Sinti e Roma, homossexuais, pessoas com deficiências físicas e mentais, testemunhas de Jeová, pessoas negras, além de membros das resistências anti-nazistas, desertores militares, pessoas que tenham ajudado judeus a escapar,  membros do partido comunista e opositores políticos em geral, pois naquela época absolutamente qualquer atitude considerada como uma infração podia levar à pena capital.

O que são as plaquinhas de metal no chão em Berlim?

Cada Stolperstein é um bloco de concreto medindo 10x10cm, com uma placa de latão que possui um design bem definido, com o nome da pessoa homenageada em destaque e o máximo de detalhes encontrados sobre ela, como por exemplo a data de nascimento, ano e local para onde ela foi deportada e informações sobre o destino da vítima. 

Uma das intenções das Pedras do Tropeço é recuperar os nomes e histórias das vítimas do nazismo, pois elas foram reduzidas a simples números nos campos de concentração. É comum ouvir falar sobre quantos milhões foram assassinados pelos nazistas. Todos sabemos, por exemplo, que 6 milhões de judeus foram exterminados no Holocausto, mas esse é apenas um número, transformando essas pessoas em meras estatísticas e desumanizando o sofrimento individual de cada vítima. É preciso ter em mente que cada uma dessas milhões de vidas tinha sua própria história. 

“Uma pessoa só é esquecida, quando seu nome cai no esquecimento”, afirma o Talmude, uma das mais importantes escrituras do judaísmo e cada Stolperstein em frente aos edifícios traz de volta à memória as pessoas que viveram ali. Uma pedra, um nome, uma história, uma pessoa.

Normalmente elas são colocadas na calçada em frente ao último local de residência da vítima homenageada, mas também existem algumas Pedras do Tropeço em frente a outros tipos de edifícios. Em Berlim você as encontra em frente a Universidade Humboldt e no antigo prédio do Ministério das Relações Exteriores, por exemplo. A principal diferença nesse caso é a primeira linha de informação que varia entre “Hier wohnte” (aqui morava), “Hier lernte” (aqui estudava) ou “Hier arbeitete” (aqui trabalhava).

Com as Pedras do Tropeço, além de sabermos exatamente quem eram essas pessoas, vemos onde elas estudavam, moravam, trabalhavam. São os mesmos lugares onde vivemos, trabalhamos e estudamos hoje.

Essas pedras definitivamente não são únicas de Berlim, se você já explorou outras cidades alemãs e mesmo diferentes países pela Europa, é possível que tenha visto uma delas.

A primeira Stolperstein foi instalada em Colônia pelo artista berlinense Gunter Demnig, no dia 16 de Dezembro de 1992, em frente à prefeitura da cidade e desde esse dia Gunter se dedicou ao projeto com afinco. Hoje o número de pedras espalhadas pela Europa passa de 100 mil, sendo quase 10 mil apenas em Berlim. 

Mesmo ainda sendo uma pequena fração do total de vítimas do regime nazista que perdurou de 1933 até 1945, o projeto é um grande sucesso e a sua grandiosidade hoje surpreende até o autor, que disse que inicialmente havia pensado em talvez 1000 pedras e isso já parecia um objetivo ousado!

Além de mais de mil cidades na Alemanha, as pedras também já foram instaladas em mais de 20 países Europeus como Áustria, Polônia, Romênia, Espanha e Grécia, por exemplo, e Gunter tenta instalar a maioria com suas mãos, continuando firme em sua obra mesmo já se aproximando dos 80 anos de idade.

Em 2023 a pedra de número 100 mil foi instalada em Nürnberg e a gente foi lá ver, além disso já vimos pedras na Itália e na Holanda também, inclusive as dedicadas à Anne Frank e à família dela.

Mas o artista Gunter Demnig não faz absolutamente tudo sozinho, muito pelo contrário! Essa é uma “escultura social”, o que significa que muitas pessoas trabalham nisso, como voluntários, estudantes, escolares e familiares de vítimas do Holocausto por todo o mundo e é financiado por doações, com cada pedra custando 120 euros, contando custos de produção e instalação.

Esse é inclusive um projeto escolar comum no equivalente ao ensino fundamental alemão, onde as crianças, juntamente com os professores, pesquisam por informações de pessoas que ainda não tenham sua pedra instalada.

Existem centenas de voluntários que ajudam a pesquisar locais e qualquer um pode sugerir uma locação nova, desde que obtenha as informações corretas. A organização pede que sejam informados o nome completo, ano do nascimento, data em que a pessoa foi presa, local que foi enviada e o ano em que aconteceu e a data exata do assassinato, tudo confirmado através de instituições, grupo e associações ligadas às vítimas. 

Claro que um projeto tão grande não existe sem críticas, com a maior delas vinda de Munique, com a presidente da associação judaica da cidade Charlotte Knobloch sendo contra o conceito da obra. Ela acredita que colocar as pedras no chão para serem pisadas é desrespeitoso e que aceitaria instalações feitas ao nível dos olhos, sugerindo as paredes dos prédios envolvidos no projeto.

O artista discordou da posição da presidente argumentando que “Quem se abaixa para ler a inscrição na pedra, curva-se diante das vítimas”, como uma renovada reverência diária a essas vidas cortadas abruptamente por um regime violento e opressor.

Por conta da controvérsia em Munique você não verá as pedras em prédios públicos da cidade, porém elas existem em propriedades privadas e exposições temporárias. 

Se você tiver a oportunidade de visitar a Europa, convidamos você a olhar para baixo e ler com atenção as Pedras do Tropeço que encontrar, já que elas estão por todo lugar. De nossa parte é o que podemos fazer: reconhecer essas pessoas e fazer o nosso melhor para nos tornarmos mais unidos e empáticos. Trabalhando para evitar a repetição dos genocídios e horrores da história do século passado.

É uma pena que coletivamente não tenhamos aprendido a lição.

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