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O dia que o Muro de Berlim caiu
O dia que o Muro de Berlim caiu

O dia que o Muro de Berlim caiu

Leitura em 7 minutos

O dia 9 de Novembro é um muito especial para Berlim. Há 34 anos (em 2023) o Muro de Berlim caiu, após 28 anos separando Berlim e com ela toda a Alemanha em duas, a República Federal da Alemanha, no oeste, e a República Democrática Alemã (RDA), no leste.

Antes da construção do Muro

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha foi dividida entre os Aliados. Metade dela, a chamada Alemanha Ocidental, ficou sob a esfera de influência dos EUA, Inglaterra e França e a outra, a Alemanha Oriental, sob influência Soviética.

No coração da Alemanha Oriental estava Berlim, e a antiga capital também estava dividida em duas, um pequeno enclave que os EUA, a Inglaterra e a França mantiveram. Sim, a Berlim Ocidental era uma pequena ilha de influência capitalista, bem no coração da RDA.

Do final da Segunda Guerra até 1961 (antes do muro) 3 milhões de meio de alemães fugiram para a Alemanha Ocidental. Vários motivos levavam pessoas a fazerem isso, desde se reunirem com familiares no lado Ocidental, a noção de que suas liberdades de expressão e políticas estavam diminuindo, falta de produtos nos mercados e até discriminação contra cristãos.

Até então era relativamente fácil sair da RDA, em Berlim bastava atravessar uma rua já que, de várias formas, a cidade ainda funcionava como uma: pessoas moravam de um lado e trabalhavam do outro, tinham amigos e família espalhados pela cidade. Bastava ir até o Aeroporto e voar para alguma cidade na Berlim Ocidental.

Tudo mudou no dia 13 de Agosto de 1961, quando da noite para o dia uma força tarefa de 10,000 soldados e policiais dividiram Berlim em duas, usando barricadas, arame farpado e o próprio volume de soldados como uma barreira física. O metrô foi cancelado, ruas fechadas e com isso, amigos e famílias foram separados em um piscar de olhos.

Com o passar dos anos o muro foi crescendo, expandindo, ficando mais e mais perigoso e letal. De apenas um muro de tijolos, passou para dois, agora construído com placas de concreto de 3.6 metros de altura e um cano no topo para impedir que ele fosse escalado. No meio deles, a faixa da morte. Um total de 156.4 km ao redor de Berlim Ocidental.

E essa foi a realidade por 28 anos.

Memorial do Muro de Berlim, nele podemos ver uma réplica dos muros com a faixa da morte no meio.

Últimos dias

Em Maio de 1989 a Cortina de Ferro, que separava países sob influência soviética e o resto do mundo, estava começando a fraquejar. Na fronteira da Hungria com a Áustria, cercas elétricas estavam sendo removidas. Cidadãos da RDA aplicavam para vistos de viagem para a Checoslováquia e de lá iam para a Hungria, atravessando para a Áustria e então Alemanha Ocidental. Até Julho, 25.000 pessoas fizeram travessias semelhantes a essa ou pediram asilo nas embaixadas da Alemanha Ocidental em Praga ou Budapeste.

Esse processo acelerou em Setembro, quando o Ministro de Exteriores da Hungria declarou que o país não iria mais restringir movimento entre eles e a Áustria. Em apenas dois dias, 22.000 alemães orientais foram foram embora, com outras dezenas de milhares fazendo o mesmo com o passar das semanas.

E quem ficou na RDA não se manteve calado: protestos gigantes começaram a surgir, inicialmente em Leipzig, com marchas semanais que começaram com 10.000 pessoas e chegaram a um pico de 300.000 no dia 2 de Outubro de 1989.

Em Berlim as coisas não eram diferentes, o dia 4 de Novembro ficou para sempre marcado por um protesto que juntou mais de meio milhão de pessoas em Alexanderplatz. Essa manifestação foi organizada por atores e empregados de teatro da Berlim Oriental, incluindo muitos do Berliner Ensemble, famoso teatro de Bertolt Brecht. Eles solicitaram uma permissão oficial de manifestação e, depois de muita deliberação dentro dos órgãos governamentais, eles receberam a autorização.

Durante o protesto, as pessoas não estavam pedindo especificamente pela queda do muro ou pela reunificação. Os pedidos eram de democracia, liberdade de expressão e liberdade de reunião.

A essa altura, o governo não podia deixar de perceber e ser afetado pela força dos movimentos sociais e, em Outubro, Erich Honecker que foi o líder da RDA por décadas, largou seu cargo e foi substituído por um político mais moderado, Egon Krenz.

O governo rapidamente tomou passos para afrouxar restrições de movimento para os cidadãos, mas projetos iniciais foram rejeitados e membros do partido resignaram em protesto. Para simplificar ainda mais a lei, uma sessão liderada por Krenz no dia 9 de Novembro decidiu abolir restrições de viagem de refugiados entre o Leste e Oeste, mesmo em Berlim. Mais tarde um adendo foi incluso permitindo viagens privadas de ida e volta, tudo pronto para começar no dia seguinte, a fim de dar tempo de avisar todos os guardas de fronteira.

Mas o dia seguinte chegou mais cedo que o previsto.

A queda

Em uma coletiva de imprensa, o representante o partido, Günter Schabowski, estava encarregado de anunciar as mudanças, porém ele não participou da criação delas e tinha as informações escritas em um papel para serem anunciadas, sem nenhuma indicação de como repassá-las para a imprensa, nem de que tudo iria começar a valer no dia seguinte.

A falta de preparo e de informações organizadas fez com que ele se expressasse de forma confusa e um dos jornalistas presentes questionou a partir de quando as novas regras valeriam e Günter Schabowski respondeu: “Até onde eu sei, está efetivo imediatamente, sem demora.”

“Até onde eu sei, está efetivo imediatamente, sem demora.” – Günter Schabowski

A coletiva terminou as 19:00 e virou notícia na TV ocidental, que era bastante assistida no Oriente também, e a informação se espalhou rapidamente, se tornando o principal assunto do dia. A partir daí, a noite foi tomada por Berlinenses indo em direção aos Checkpoints do Muro, exigindo passagem. Multidões gritavam enquanto os guardas, confusos, não sabiam o que fazer.

No Checkpoint de Bornholmer Brücke, o Coronel Harald Jäger foi um dos que ouviu a comitiva de imprensa e quase engasgou no seu sanduíche quando a informação de passagem livre foi anunciada. Inicialmente as ordens que ele recebeu era de deixar apenas pessoas muito briguentas passarem naquele dia mesmo, sem avisar que elas jamais poderiam retornar, mas o volume de pessoas se tornou demais para conter e ele sentiu que a situação estava se tornando perigosa. As 11:30 da noite, ele ordenou que os guardas abrissem a fronteira.

Em poucas horas 20.000 alemães orientais passaram por essa ponte, do outro lado alemães ocidentais estavam esperando com flores, espumante e muita alegria, bares estavam servindo cerveja de graça para todos.

Nesse momento o muro deixou de existir.

Temos um vídeo completo com um passeio através da história do Muro

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